Por: Nanda Café*
A segunda história foi de uma mãe que se sentiu no direito de enviar mensagens enraivecidas para uma pessoa que não havia deixado seu filho brincar com suas estátuas colecionáveis de super-heróis e o seguinte diálogo aconteceu:
Alguns detalhes sobre os fatos
- A pessoa que coleciona as estátuas é uma mulher, não um homem, como a maior parte das pessoas foi rápida em presumir;
- A dona da coleção diz ter explicado para a criança – que tem 7 anos – o motivo de não permitir que as estátuas fossem tocadas;
- Cada estátua custa, em média, R$2.000,00 e muitas delas são edições limitadas e raras;
- A criança estava na casa acompanhada da mãe, que presenciou a cena.
O lado nerd
Por um lado, é perfeitamente compreensível entender a indignação de nerds colecionadores só de pensar em alguém – adulto, criança ou cachorro – chegando perto de estátuas ou colecionáveis caríssimos. É uma pauta recorrente aqui no blog o fato de que gostar de super-heróis, animes, jogos de tabuleiro ou videogames não é sinal de imaturidade ou infantilidade.
É preciso entender que a leitura e a fruição desse tipo de entretenimento são feitas de maneiras inteiramente diferentes por adultos e crianças, e é muito raso fazer afirmações generalistas sobre esse público, como adolescentes tardios, ou hipster pejotinha, ou ainda que os mimados são eles.
Se a cultura geek se transformou em um rentável nicho de consumo, isso se dá apenas porque as crianças que gostavam disso na infância cresceram e formam um grupo de considerável poder aquisitivo – ou disposta a investir mais em hobbies do que em bens patrimoniais, por exemplo. Não é à toa que esse mercado cresceu vertiginosamente apesar da crise. É preciso uma leitura muito mais aprofundada sobre esse público tão diverso que compõe o consumidor geek.
Por um lado, é perfeitamente compreensível entender a indignação de nerds colecionadores só de pensar em alguém – adulto, criança ou cachorro – chegando perto de estátuas ou colecionáveis caríssimos. É uma pauta recorrente aqui no blog o fato de que gostar de super-heróis, animes, jogos de tabuleiro ou videogames não é sinal de imaturidade ou infantilidade.
É preciso entender que a leitura e a fruição desse tipo de entretenimento são feitas de maneiras inteiramente diferentes por adultos e crianças, e é muito raso fazer afirmações generalistas sobre esse público, como adolescentes tardios, ou hipster pejotinha, ou ainda que os mimados são eles.
Se a cultura geek se transformou em um rentável nicho de consumo, isso se dá apenas porque as crianças que gostavam disso na infância cresceram e formam um grupo de considerável poder aquisitivo – ou disposta a investir mais em hobbies do que em bens patrimoniais, por exemplo. Não é à toa que esse mercado cresceu vertiginosamente apesar da crise. É preciso uma leitura muito mais aprofundada sobre esse público tão diverso que compõe o consumidor geek.
O lado mãe
O grande problema está em culpabilizar as crianças pelos adultos responsáveis por ensinar a elas todos esses conceitos. Muitas mães se sentiram extremamente incomodadas quando, na troca de mensagens, a menina compara a criança a um peido, usando a velha piada do “filho é igual peido, cada um que aguente o seu”. É uma piada? Sim. É inofensiva? Talvez não.
Porque não foi preciso muito para que, em ambos os casos, os comentários fossem inundados de ódio contra esse grupo social extremamente vulnerável.
A legenda “Uma coisinha linda dessas vcs acha mesmo que eu vou deixar um velho pegar com as mãozinha cheia de tremedeira?” seria absurda, não é? Por que com criança pode?
Quando eu digo adultos responsáveis, eu não estou falando apenas da mãe. Existe um provérbio de origem africana que diz É preciso uma vila para criar uma criança (e quem convive comigo já está cansado de ouvir). Por mais que a convivência com os pequenos não faça parte de seu cotidiano, é impossível viver em um mundo livre deles (por mais que muitos comentaristas de redes sociais desejem isso).
Os pais são apenas uma das milhares de influências que uma criança – um ser em formação – tem na vida. Se a mãe “sem noção” não entende o valor – sentimental ou monetário – de uma coleção para explicar para a criança, esse papel cabe a quem entende. É empatia básica.
Eu nem acho que tenha sido o caso da pessoa envolvida nas mensagens, que afirma ter explicado. O problema vai além.
Aguentar, educar, se livrar
Também é empatia entender que a criança pode se frustrar, mesmo com a explicação mais didática do mundo. Se tem adultos que continuam enchendo o saco ou te reprovam por gastar boa parte do seu salário com uma coleção ou hobbie, uma criança, seja com 1 ano e 3 meses ou 7 anos, pode não ter ainda o repertório emocional ou de vocabulário para expressar essa incompreensão.
Mas choro de criança incomoda. Mesmo. Somos – homens e mulheres – biologicamente programados para responder ao choro de maneira a fazê-lo cessar, por que, biologicamente e socialmente, o choro é uma resposta à uma situação de estresse (picos de neurotransmissores) associada ao medo e perigo e é nosso papel de primata proteger os menores do grupo.
Ninguém quer estar perto de uma criança chorando, nem as mães. Acreditem: se pudéssemos, também viraríamos as costas e reviraríamos os olhos e sairíamos de perto – e às vezes até fazemos isso mesmo. Mas, na maior parte do tempo, como não podemos, o jeito é resolver a situação.
Isso não significa que tudo deve ser permitido às crianças. Não é para dar o suco, nem para deixar brincar com a estátua. Mas é difícil, chato e complicado buscar soluções efetivas, não violentas e educativas, é por isso que a sociedade faz questão que cada mãe que aguente seu peido filho.
Até uma determinada faixa etária, nem dá pra conversar. Com outras idades, é preciso explicar de novo, explicar mais uma vez, buscar entender o contexto da criança, tirá-la da situação que está causando o estresse para, então, explicar novamente. Educar e criar crianças é treta. Pesada. E é por isso que nós, mães, pedimos empatia e ajuda. Se não com a gente, com nossos filhos.
Porque queremos que as criança sejam responsabilidade individual de cada família, mas é na sociedade que ela vai conviver. E é impossível esperar adultos emocionalmente saudáveis de uma sociedade que está tão disposta a odiá-los enquanto eles são crianças.
* Nanda Café é feminista que faz ballet e adora cor-de-rosa. Gosta de RPG, fantasia medieval, anime água-com-açúcar e é #teammarvel apesar de Sandman ser da Vertigo. Começou a estudar Quenya, mas como não dava pra fazer isso enquanto comia, desistiu de ser elfa e admitiu para si sua natureza hobitesca.
Fonte: Blog PacMãe